In:

plano cartesiano

estranha essa tendência
todo esse infinito
delimitado em sistemas

comé qué ausência dos pontos
dos traços
da saudade

arrastado pro sempre
dilacerado
moído


que ri a vi da to da se pa ra da
que ri o mun do to de mui tas co res
que ri um chêrodamizade
sabe, guardei pra mim todos amores em papél, todas conquistas em canudo, toda coragem em medalha, tudo em vão; no peito vão.
nosso corpo espicha, a barba cresce, nossa mão enruga, pronto!

e a força do homem
e a força do homem
e a força do homem
contraindo-se a delicadeza, os susurros, todo e qualquer se.
peguei-me a pensar em perguntar a mim
qual maior risco, qual maior dor.
e não achei:
alegria
consolo
paz


Caros.. caros, caros.
o tempo não pára, a vida prega peça.
corre devagar pra não cair nada pelo caminho
volta, se preciso,
espera e usa vírgula, ponto&vírgula, exclamação,
o escambal a quatro.


me abraça.





In:

Duvido eu

Eu digo vem
Você duvida...
Duvida...

Cai o tempo

Vai...
Cai
Vai...
Cai
Vai...

O tempo, com sua estética de tempo caído.

Você fala
Fala
Fala...
Vai...
Fala que não pára

Pra só no final dizer que espera
Que espera por mim;

Aí divido entre sorrio e rio
Sorrio
Rio, rio...
Sorrio.

Volta o tempo que caiu, e aí duvido:
Duvido eu.

In:

Oncinhas pintadas, zebrinhas listradas, coelhinhos peludos

Algumas pessoas pensam fazer parte de um enredo de filme.

Perderam a bagagem da desconhecida esguia e fagueira de cabelos coloridos no aeroporto e ela talvez tenha frio? Dê um pedaço de você pra ela, suas coisas que não tem nome, teu paletó, suas malas, mas nunca o nome tampouco o endereço, assim seria desfeito o acaso, pois certamente ainda vão se encontrar pela vida.

Sonhadores fudidos que se escondem da existência sem sentido ou propósito que estamos condenados a ter.

É uma pena, mas por trás da vida não tem um roteirista e um diretor. Seria fantástico, mas não tem, desculpe. Imagine-se como personagem de um filme! Pense no diretor que quiser, daqueles italianos do real supercolor.

Duas pessoas se olharam e se apaixonaram em um semáforo, em uma grande cidade, ela foi para a direita e ele para a esquerda. É triste mesmo, mas provavelmente nunca mais se encontrem.
As coisas não se encaixam sozinhas como se houvesse um puto de um plano maior, e a não ser que dê uma sorte do caralho, e só. É tudo ao acaso, e por isso, desculpe de novo.

Ninguém te olha de longe, os sorrisos que sorri sozinho não serão mesmo nunca vistos, seus míseros problemas e suas dores egoístas são só míseros problemas e dores egoístas.

Olha meu caro, não é alarme tampouco vaidade minha, mas você, eu ou o canalha do banqueiro não vão fazer, de maneira geral, qualquer diferença fundamental batendo as botas agora mesmo. Agora mesmo! Talvez um choro de mãe que dure toda a vida, mas mãe não conta. Meia dúzia de pessoas ficariam entristecidas, um amigo muito próximo, um irmão, um cão, mas com tempo provavelmente seguiriam se distraindo, bebendo e comemorando as bobagens da vida.

Tanto faz isso também, mas se a morte chegasse amanhã, com seu fraque e conhaque, para a grande maioria todos os grandes jornais estariam intactos, chegando nas garagens das pessoas bem informadas, o rio continuaria sujo, os pássaros iriam acordar seis horas da manhã, você não teria nem esfriado ainda e um rato administrativo qualquer que te conhece estaria reclamando por conta de um café do escritório doce demais ou de menos.

Desculpe se te desanimo, mas não tem cinema, e a manhã do seu enterro não será completamente triste, cinza, chuvosa e com trilha sonora, com pessoas de roupa preta e guarda-chuva. Você provavelmente vive num país tropical, então quase certo que vai estar um calor e um sol do caralho, com criança esganiçada e gordo fazendo cooper.

Olhe pras estrelas, pro mar, pros planetas, pra lua, pra história do ser humano sobre a terra; Nada precisa de você. Devem rir da nossa falta de sincronismo, da nossa presunção, da nossa estupidez, da falácia por trás das lutas e dos vestibulares, da farsa da coragem. Está de passagem por aqui, um curso de cem anos. Daqui dez mil anos a lua vai estar exatamente como esteve há dez mil anos, resignada conosco como sempre foi.

Pode estar pensando que vai deixar um legado de bem, coisas escritas, generalidades, trabalhos acadêmicos, educação de um menino que aprendeu a dizer obrigado na marra, feito eu. No melhor caso pode até encabeçar a independência de um país, fazer uma revolução grande, ser o assassino mais inteligente que já houve, o imperador do império vigente, mas daqui 500, 1000, 2000, 5000 anos não vai ter feito qualquer diferença. Sua vida é muito curta, e no final das contas, de maneira geral, não fez ou vai fazer qualquer diferença.

Suas metinhas e planinhos, seus putos romances, o emprego, sua sexualidade, suas continhas e dinheirinhos são só alternativas pra preencher uma vida sem propósito, e se parar e pensar só um pouco verá que tenho razão. Por mais que se esforce vai ser pra sempre, no contexto geral, um medíocre de merda.

Trabalho? Casamento? Filhos? Responsabilidades? Custos e Contas? Não deveria reclamar tanto dessas coisas, pois afinal, sem elas sua pequena vidinha seria menor do que já é, e como não saberia o que fazer, estaria aqui escrevendo coisas negativas como estou.

E ainda aparecem esses outros pra darem conselhos sobre o que ou não fazer, o quanto não devo beber, que paixão é ilusão, que faz mal pra cacete fumar, o quão mais responsável tenho que ser? Ahh suas oncinhas pintadas, suas zebrinhas listradas, seus putos coelhinhos peludos, vão se fuder!

Que venham os desencontros, todos, de uma vez.

In:

Amor de plástico

- Você me ama?
- Sim, muito.
- E porquê nunca diz?
- Eu esqueço.
- Então diga agora.
- Ué, eu te amo.
- Mais entusiasmo...
- EU TE AMO!
- Tá. Lembra de quando nos conhecemos?
- Sim, claro, muito.
- Tantas mulheres, como me escolheu? Sinceramente.
- Sinceramente? Olha, era a mais bonita, e tinha um belo par de pernas.
- E agora? O que te faz ainda estar comigo?
- Continua a mais bonita, e com pernas ainda mais bonitas.
- Obrigada, amor. E o que mais?
- É difícil de encontrar uma mulher com um belo par de pernas que não vê a grosseria e a estupidez por trás de minhas sutilezas.

In:

uma trouxa.

quero andar pela rua inocente, quero rir das máscaras dos outros, quero colecionar bolinhas de gude, quero mascar chiclete de boca aberta.
quero dançar agarrada às pernas dele, quero achar graça em tudo por aí, quero brigar com o sono até tarde, quero um diário pra esconder.

traga-me uma trouxa, cresci, sou homem. Irei guardar toda essa vontade e ver o mundo de um lado só.