In:

- Você é como um amor que cai do teto, bem em cima de mim.

(silêncio)

- Como assim do teto?

- Ah, não vou explicar.

- Então se foda.

In:

Sim, quero!

Ouça bem.

Não tem aquilo o bastante pra vida toda, ou vida suficiente para tanto aquilo, mas terá o raro privilégio, como poucos tiveram ou terão de conhecer o gosto do amor, sim terá, e será fantástico, único, não existiu felicidade maior, um recorte como nada que conhece.

Por outro lado, quando esquecer que é um privilégio e ordinarizar, pormenorizar, balancear e decidir convicta, urgente e orgulhosamente virar por um minuto de costas ele voará feito fumaça, pra outro lugar.

Aí então, apesar de muito jovem, até o fim da vida estará fadada a vagar pelos cantos, pelos ombros, pelos bares e pelos encontros, procurando algo que ao menos se pareça, nem que por um minuto, com aquilo, mas morrerá ímpar, pois o amor não haverá de voltar, estará em outro lugar, enfeitado com outros laços, se enroscando em outros abraços, realizando-se como o amor foi feito pra se realizar.

Quer mesmo assim?

In:

Pelo menos que eu conheça

Não tem problema, todos se enganam hora ou outra, pode ver.

Dizae, sinceramente, não se enganam?
Então, de fato, é normal.

Não, sério, suavemente.

Sim sim, já disse que não me preocupo.
Todos se enganam, eu, vocẽ, eles. Sem problema.

Só seguir.
Um engano, um engôdo, uma falácia, quem nunca?
É, quem?

Todos! Não há sequer um que não se engane.
Pelo menos que eu conheça.

Não há um.
Não há.

Todos se enganam.
Todos.

Todos, menos eu.

In:

plano cartesiano

estranha essa tendência
todo esse infinito
delimitado em sistemas

comé qué ausência dos pontos
dos traços
da saudade

arrastado pro sempre
dilacerado
moído


que ri a vi da to da se pa ra da
que ri o mun do to de mui tas co res
que ri um chêrodamizade
sabe, guardei pra mim todos amores em papél, todas conquistas em canudo, toda coragem em medalha, tudo em vão; no peito vão.
nosso corpo espicha, a barba cresce, nossa mão enruga, pronto!

e a força do homem
e a força do homem
e a força do homem
contraindo-se a delicadeza, os susurros, todo e qualquer se.
peguei-me a pensar em perguntar a mim
qual maior risco, qual maior dor.
e não achei:
alegria
consolo
paz


Caros.. caros, caros.
o tempo não pára, a vida prega peça.
corre devagar pra não cair nada pelo caminho
volta, se preciso,
espera e usa vírgula, ponto&vírgula, exclamação,
o escambal a quatro.


me abraça.





In:

Duvido eu

Eu digo vem
Você duvida...
Duvida...

Cai o tempo

Vai...
Cai
Vai...
Cai
Vai...

O tempo, com sua estética de tempo caído.

Você fala
Fala
Fala...
Vai...
Fala que não pára

Pra só no final dizer que espera
Que espera por mim;

Aí divido entre sorrio e rio
Sorrio
Rio, rio...
Sorrio.

Volta o tempo que caiu, e aí duvido:
Duvido eu.

In:

Oncinhas pintadas, zebrinhas listradas, coelhinhos peludos

Algumas pessoas pensam fazer parte de um enredo de filme.

Perderam a bagagem da desconhecida esguia e fagueira de cabelos coloridos no aeroporto e ela talvez tenha frio? Dê um pedaço de você pra ela, suas coisas que não tem nome, teu paletó, suas malas, mas nunca o nome tampouco o endereço, assim seria desfeito o acaso, pois certamente ainda vão se encontrar pela vida.

Sonhadores fudidos que se escondem da existência sem sentido ou propósito que estamos condenados a ter.

É uma pena, mas por trás da vida não tem um roteirista e um diretor. Seria fantástico, mas não tem, desculpe. Imagine-se como personagem de um filme! Pense no diretor que quiser, daqueles italianos do real supercolor.

Duas pessoas se olharam e se apaixonaram em um semáforo, em uma grande cidade, ela foi para a direita e ele para a esquerda. É triste mesmo, mas provavelmente nunca mais se encontrem.
As coisas não se encaixam sozinhas como se houvesse um puto de um plano maior, e a não ser que dê uma sorte do caralho, e só. É tudo ao acaso, e por isso, desculpe de novo.

Ninguém te olha de longe, os sorrisos que sorri sozinho não serão mesmo nunca vistos, seus míseros problemas e suas dores egoístas são só míseros problemas e dores egoístas.

Olha meu caro, não é alarme tampouco vaidade minha, mas você, eu ou o canalha do banqueiro não vão fazer, de maneira geral, qualquer diferença fundamental batendo as botas agora mesmo. Agora mesmo! Talvez um choro de mãe que dure toda a vida, mas mãe não conta. Meia dúzia de pessoas ficariam entristecidas, um amigo muito próximo, um irmão, um cão, mas com tempo provavelmente seguiriam se distraindo, bebendo e comemorando as bobagens da vida.

Tanto faz isso também, mas se a morte chegasse amanhã, com seu fraque e conhaque, para a grande maioria todos os grandes jornais estariam intactos, chegando nas garagens das pessoas bem informadas, o rio continuaria sujo, os pássaros iriam acordar seis horas da manhã, você não teria nem esfriado ainda e um rato administrativo qualquer que te conhece estaria reclamando por conta de um café do escritório doce demais ou de menos.

Desculpe se te desanimo, mas não tem cinema, e a manhã do seu enterro não será completamente triste, cinza, chuvosa e com trilha sonora, com pessoas de roupa preta e guarda-chuva. Você provavelmente vive num país tropical, então quase certo que vai estar um calor e um sol do caralho, com criança esganiçada e gordo fazendo cooper.

Olhe pras estrelas, pro mar, pros planetas, pra lua, pra história do ser humano sobre a terra; Nada precisa de você. Devem rir da nossa falta de sincronismo, da nossa presunção, da nossa estupidez, da falácia por trás das lutas e dos vestibulares, da farsa da coragem. Está de passagem por aqui, um curso de cem anos. Daqui dez mil anos a lua vai estar exatamente como esteve há dez mil anos, resignada conosco como sempre foi.

Pode estar pensando que vai deixar um legado de bem, coisas escritas, generalidades, trabalhos acadêmicos, educação de um menino que aprendeu a dizer obrigado na marra, feito eu. No melhor caso pode até encabeçar a independência de um país, fazer uma revolução grande, ser o assassino mais inteligente que já houve, o imperador do império vigente, mas daqui 500, 1000, 2000, 5000 anos não vai ter feito qualquer diferença. Sua vida é muito curta, e no final das contas, de maneira geral, não fez ou vai fazer qualquer diferença.

Suas metinhas e planinhos, seus putos romances, o emprego, sua sexualidade, suas continhas e dinheirinhos são só alternativas pra preencher uma vida sem propósito, e se parar e pensar só um pouco verá que tenho razão. Por mais que se esforce vai ser pra sempre, no contexto geral, um medíocre de merda.

Trabalho? Casamento? Filhos? Responsabilidades? Custos e Contas? Não deveria reclamar tanto dessas coisas, pois afinal, sem elas sua pequena vidinha seria menor do que já é, e como não saberia o que fazer, estaria aqui escrevendo coisas negativas como estou.

E ainda aparecem esses outros pra darem conselhos sobre o que ou não fazer, o quanto não devo beber, que paixão é ilusão, que faz mal pra cacete fumar, o quão mais responsável tenho que ser? Ahh suas oncinhas pintadas, suas zebrinhas listradas, seus putos coelhinhos peludos, vão se fuder!

Que venham os desencontros, todos, de uma vez.

In:

Amor de plástico

- Você me ama?
- Sim, muito.
- E porquê nunca diz?
- Eu esqueço.
- Então diga agora.
- Ué, eu te amo.
- Mais entusiasmo...
- EU TE AMO!
- Tá. Lembra de quando nos conhecemos?
- Sim, claro, muito.
- Tantas mulheres, como me escolheu? Sinceramente.
- Sinceramente? Olha, era a mais bonita, e tinha um belo par de pernas.
- E agora? O que te faz ainda estar comigo?
- Continua a mais bonita, e com pernas ainda mais bonitas.
- Obrigada, amor. E o que mais?
- É difícil de encontrar uma mulher com um belo par de pernas que não vê a grosseria e a estupidez por trás de minhas sutilezas.

In:

uma trouxa.

quero andar pela rua inocente, quero rir das máscaras dos outros, quero colecionar bolinhas de gude, quero mascar chiclete de boca aberta.
quero dançar agarrada às pernas dele, quero achar graça em tudo por aí, quero brigar com o sono até tarde, quero um diário pra esconder.

traga-me uma trouxa, cresci, sou homem. Irei guardar toda essa vontade e ver o mundo de um lado só.

In:

'que a fumaça do meu ceticismo'

porque as pessoas enganam?

elas machucam.

use todos teus enfeites,
vista-te de toda a beleza e fascínio,
perfumado à mentira,

eu mistério.
eu não caio mais.
eu me lembro.

In:

Amor de balcão


21:25

(21:25:23) Laranja: toc toc
(21:25:52) Lilás: quem é?
(21:26:02) Laranja: não vou dizer, mas quero entrar
(21:26:31) Lilás: hm..
(21:26:35) Lilás: inseguro,
(21:26:48) Lilás: perigoso isso.
(21:27:16) Laranja: você que escolhe
(21:27:49) Laranja: mas veja bem, segurança é o argumento dos estúpidos pra manterem-se no mesmo lugar
(21:27:53) Laranja: prometo-te a verdade
(21:28:00) Laranja: só a verdade
(21:28:03) Laranja: nada mais
(21:28:06) Laranja: nada de menos
(21:28:24) Lilás: sendo assim,
(21:28:28) Lilás: fiquei curiosa.
(21:28:40) Lilás: pode entrar (:
(21:29:00) Lilás: vô robar a frase de quebra
21:30
(21:30:47) Laranja: qual frase?
(21:31:11) Laranja: uau!
(21:31:23) Laranja: estou lisonjeado, foi pro topo do teu msn!
(21:32:02) Lilás: pro topo de uma situação
(21:32:06) Lilás: veio em hora certa
(21:32:11) Laranja: tomara
(21:32:13) Lilás: oaiheoiaeae
(21:32:17) Lilás: é
(21:32:20) Laranja: queria te falar uma coisa
(21:32:41) Laranja: mas o que quero dizer ainda não tem nome
(21:32:53) Laranja: deixa, senta mais
(21:32:57) Lilás: então inventa
(21:33:23) Laranja: você abriiu a porta pq quis
(21:33:28) Laranja: agora não saio mais daqui
(21:33:40) Laranja: por puro capricho
(21:34:05) Laranja: pq agora é aqui, nesse lugar não planejado, que quero ficar
(21:34:36) Lilás: temos um estrategista aqui então?
(21:34:49) Laranja: não
(21:34:54) Laranja: sou algo que não tem nome ainda
21:35
(21:35:08) Laranja: ando sem rumo, sem telhado
(21:35:16) Laranja: tenho pouco pra oferecer
(21:36:20) Laranja: não fico feliz por isso, pois a felicidade é a máscara dos estúpidos, dos com coração vazio, dos que enxergam perto demais
(21:36:22) Lilás: pouco?
(21:36:35) Laranja: pouco... na verdade, quase nada
(21:36:46) Lilás: mas a VERDADE é tudo.
(21:36:55) Laranja: sou pouco, portanto, tenho pouco pra oferecer
(21:37:25) Laranja: tenho meia dúzia de verdades, o dobro de mentiras, mas sou franco, e apesar de oferecer pouco quero tudo, quero o máximo
(21:37:36) Laranja: mesmo mentindo sou franco
(21:38:21) Laranja: e é assim que ando, perdido, tropeçando nas bobagens mais próximas e secundárias... cambalerando numa vida que não é minha, nunca foi
21:40
(21:40:53) Laranja: ela me abraça, mente pra mim, sei que mente, ela também sabe que eu sei, mas abraça forte, parece franca, e gosto por falta de alternativa, por insistência, pela conveniência de se segurar e se justificar no que há de mais secundário e falso
(21:41:59) Lilás: a falsidade me soa como a verdade mais doce.
(21:42:07) Lilás: mentira ou verdade
(21:42:22) Lilás: só quero que fira meu ceticismo.
(21:42:58) Lilás: então eu abro meus braços préssa tua mediocridade
(21:43:06) Lilás: préssa tua miséria.
(21:43:28) Lilás: pode me abraçar,
(21:43:43) Lilás: sou secundária e falsa
(21:43:56) Lilás: mas ofereço somente verdades.
(21:44:20) Laranja: sua franqueza me toca, e sabe bem
(21:44:50) Laranja: suma da minha vida de uma vez, me engane
21:45
(21:45:07) Laranja: sou todo seu, sou todo prova
(21:45:41) Laranja: me deixe no seu colo
(21:45:48) Laranja: mais um pouco
(21:47:12) Laranja: finjo que durmo, pra sempre poder ver quando vai embora
(21:47:27) Lilás: te deixo no colo
(21:47:33) Lilás: e te acaricio
(21:47:51) Lilás: mesmo sabendo que és raposa.
(21:48:25) Lilás: e não temo.
(21:48:42) Laranja: sou uma raposa mentirosa
(21:48:51) Laranja: nem raposa pude ser
(21:49:02) Laranja: contigo, raposa é pouco
(21:49:31) Laranja: não me escondo, pois não mais posso
(21:49:53) Laranja: enxerga-me por dentro, e agora sabe que nem raposa posso ser
21:50
(21:50:16) Laranja: desfez minhas fantasias, minhas mentiras, meus personagens
(21:50:51) Laranja: deixei que caísse por ti a maior das mentiras
(21:51:59) Laranja: e assim, de mim, nada tem senão o que vê, senão minha franqueza, o que sou, de fato
(21:52:27) Lilás: nu.
(21:52:48) Lilás: o nu é tão verdade qnto toda a mentira.
(21:52:58) Lilás: me pegue de surpresa
(21:53:32) Lilás: e qq segurança estúpida irá cair.
(21:53:46) Lilás: contando segredos à raposa,
(21:54:09) Lilás: fique com o pé atrás.
(21:54:20) Lilás: conselho de raposa.
21:55
(21:55:24) Laranja: toc toc
(21:55:42) Lilás: o que tens aí?
(21:55:59) Laranja: trago a verdade nos braços, um tornado nos dentre
(21:56:02) Laranja: dentes
(21:56:08) Laranja: sei das noites que mal dorme
(21:56:35) Laranja: das tristezas, ainda sem nome, de uma vida que não faz sentido
(21:57:02) Laranja: sei da tua vontade de se tornar estúpida, pra sentir menos
(21:57:15) Laranja: pra se casar feito as meninas com a cabeça de vento
(21:57:48) Laranja: sei que sua beleza te incomoda, que viveria melhor sem ela
(21:58:25) Laranja: que parece feliz, sei que atua, mas que não encontra o que procura
(21:58:42) Laranja: digo que não vai mesmo encontrar nada onde está procurando
(21:58:46) Laranja: insisto, não é assim
(21:58:58) Laranja: venha, pule!
(21:59:14) Laranja: olhe pro horizonte, procure ver o que ele sussura em teus ouvidos
(21:59:23) Laranja: ele diz "pule!'
22:00
(22:00:38) Laranja: te abro uma das mãos e te ofereço tudo o que já tem, o quebra cabeça que nunca conseguirá montar, uma vida de pedaços, de migalhas
(22:01:59) Laranja: mostro-te os dentes, a insensibilidade, a grosseria e a impessoalidade dos que não te olham nos olhos, dos que não te enxergam, dos que nunca te olharão de verdade
(22:02:16) Laranja: também ofereço a outra mão, inteira, pra que segure
(22:02:27) Laranja: pra te dar a sensação de que está escolhendo
(22:02:48) Laranja: segure na minha mão
(22:03:04) Laranja: eles são muitos, mas sabem muito pouco, são estúpidos e serão assim pra sempre
(22:03:24) Laranja: não! continue respirando
(22:03:34) Laranja: olhe nos meus olhos, profundamente
(22:03:38) Laranja: o que vê?
(22:03:42) Laranja: não responda
(22:03:49) Laranja: olhe fundo
(22:03:58) Laranja: eu te vejo, então deve poder me ver também
(22:04:16) Laranja: não! continue respirando, forte, não desista, não olhe pra eles
(22:04:48) Laranja: sim, é tudo que tenho
(22:04:52) Laranja: venha
(22:04:52) Laranja: vamos
(22:04:54) Laranja: arranco-te a pele
(22:04:59) Laranja: toda a pele
22:05
(22:05:08) Laranja: essa pele estéril que não mais te serve
(22:05:20) Laranja: veja, olhe de novo pros meus olhos... o que vê agora?
(22:05:28) Laranja: sim, é assim que é
(22:05:32) Laranja: sou você
(22:05:48) Laranja: só que ao contrário
(22:05:57) Laranja: prometo-te tudo que é teu
(22:06:04) Laranja: tudo que sempre quis te dar
(22:06:11) Laranja: venha, vamos
(22:06:32) Laranja: fique calma, é estranho mesmo no começo
(22:06:45) Laranja: espere pra ver o beijo
(22:07:07) Lilás: sensação estranha de mim mesma.
(22:07:21) Lilás: me proibiria de sentir-me assim
(22:07:34) Lilás: mas não posso deixar de usar o 'como'
(22:07:38) Lilás: nesses termos.
(22:07:58) Lilás: sou avesso ao meu avesso.
(22:08:13) Lilás: e me uso, me visto, me chamo
(22:08:31) Lilás: em toda indecência.
(22:09:04) Lilás: avessa ao meu avesso*
(22:09:35) Lilás: mas não leia o correto
(22:09:50) Lilás: sem ter lido primeiro o in.
22:10
(22:10:04) Lilás: olha lá eu denovo agindo como disseste.
(22:10:16) Lilás: quero logo o beijo!
(22:10:20) Lilás: vamos me dê.
(22:10:44) Lilás: que eu já não consigo controlar
(22:11:07) Laranja: [sorrio calmamente enquanto fala]
(22:11:28) Laranja: digo, insisto, será teu primeiro beijo
(22:13:10) Laranja: pois nunca entendeu nada de nada enquanto esteve com eles, enquanto foste besta, enquanto foste a pobreza dos insensíveis e dos impessoais
(22:13:35) Laranja: enquanto eu te procurava por toda a vida, com meus olhos cheios de lágrimas por ti
(22:14:08) Laranja: enquanto perdia teu tempo
(22:14:15) Laranja: enquanto cuidava do fígado
(22:14:48) Laranja: enquanto procurava , sem saber, pelo avesso
(22:14:52) Laranja: quer mesmo assim?
22:15
(22:15:48) Lilás: quero.
(22:15:52) Lilás: mesmo sabendo que mentes
(22:16:07) Lilás: que não chorastes
(22:16:20) Lilás: que me encontrates mesmo ao acaso.
(22:16:26) Laranja: chorava mesmo sem saber
(22:16:34) Lilás: e de tal dificuldade, crias uma fantasia
(22:16:35) Laranja: sou seu avesso
(22:16:52) Lilás: pra me mostrar que é quem eu buscava
(22:17:04) Lilás: pra me dar a sensação de escolha.
(22:17:11) Lilás: a mesma da mão inteira.
(22:17:23) Lilás: a mesma que me envolveu.
(22:17:29) Lilás: quero!
(22:17:51) Laranja: não tem remédio, nunca teve
(22:18:06) Laranja: isso não tem cura
(22:18:29) Laranja: segure em mim por um momento, venha ver
(22:18:33) Laranja: olhe pra eles...
(22:18:57) Laranja: veja o céu da américa do sul
(22:19:10) Laranja: veja o vermelho diabo que sai dos lugares luxuosos
(22:19:15) Laranja: calma...
(22:19:34) Laranja: segure mais forte em mim
(22:19:38) Laranja: vamos pro quarto andar
(22:19:55) Laranja: veja aquele pobre diabo
22:20
(22:20:05) Laranja: - FULANO! - chamo
(22:20:20) Laranja: ele acenou com a cabeça pois fui franco
(22:20:28) Laranja: - Besta, venha cá!
(22:20:44) Laranja: - Veja esta nossa vista esplêndida da estupidez humana
(22:21:00) Laranja: - Que quer da vida?
(22:21:17) Laranja: pergunte pra ele se ele consegue ver também
(22:21:46) Laranja: - Sou homem ou sou bicho - pergunta o homem
(22:21:51) Laranja: - És bicho - respondo
(22:22:11) Laranja: - Sente o peso do mundo nos teus ombros, ó bicho?
(22:22:23) Laranja: - Estou te acusando
(22:22:44) Laranja: - Mas a culpa não é sua
(22:22:51) Laranja: - Sente o fígado?
(22:23:10) Laranja: vamos embora
(22:23:54) Laranja: te encontrei quando não te procurava
(22:24:30) Laranja: eu sabia que seria assim
(22:24:55) Laranja: te encontrei pelas asas do acaso, te encontrei quando deixei de te procurar
22:25
(22:25:55) Lilás: é o fim de mim?
(22:25:59) Lilás: do meu avesso?
(22:26:04) Lilás: me mostra mais
(22:26:08) Lilás: quero tanto.
(22:26:41) Lilás: ver assim cru
(22:26:54) Lilás: é ver o que eu me recuso
(22:27:22) Lilás: o que eu escondo tããão deseprado
(22:27:23) Lilás: de mim.
(22:27:47) Lilás: e o que vêem, e o que procuram.
(22:27:58) Lilás: mas não entendem, não sabem, não acreditam
(22:28:19) Lilás: é o que aceitam quando eu teimo
(22:28:32) Lilás: dizendo que a culpa lhes compete
(22:28:43) Lilás: me diz,
(22:28:51) Lilás: sou triste ou feliz?
(22:28:59) Lilás: melhor,
(22:29:11) Lilás: sinto diferença entre eles?
22:30
(22:30:40) Lilás: desesperado*
(22:31:18) Laranja: você sente tudo
(22:31:27) Laranja: só não sabe bem os nomes das coisas
(22:32:32) Lilás: muito ou pouco?
(22:32:48) Laranja: é tudo seu, só não consegue pegar
(22:33:34) Laranja: são muitos, mas não entendem nada!
(22:33:39) Laranja: deixa que vá, pouco importa
(22:33:48) Laranja: nunca fez diferença, não é agora que vai fazer
(22:33:58) Laranja: não vai achar sentido nisso
(22:34:10) Laranja: vá, prove as coisas
22:35
(22:35:21) Laranja: escolha suas drogas, suas armas, guarde suas mentiras nos bolsos só pra você
(22:35:29) Laranja: enfie-se nas duas drogas
(22:35:40) Laranja: é uma luta sem lados, sem inimigos
(22:35:44) Laranja: luta sozinha, feito todos
(22:35:48) Laranja: luta contigo mesma
(22:35:55) Laranja: numa estrada que não tem fim nem começo
(22:36:40) Laranja: use toda a maquiagem de uma vez, finja, finja tudo que puder
(22:36:47) Laranja: é assim que se faz
(22:37:32) Laranja: é algo que não tem sentido por si próprio, então faça o que quiser
(22:37:55) Laranja: o que acha da vista? esplêndida, não?
(22:39:07) Laranja: deixa pra lá
(22:39:50) Laranja: posso ficar mais um pouco no teu colo, antes que vá embora? prometo que não te olho mais nos olhos.
22:40
(22:40:15) Lilás: sabes bem o que fez não é?
(22:40:31) Laranja: não sei
(22:41:06) Laranja: conte-me, verdade ou mentira, mas seja franca
(22:41:07) Lilás: não é de ti
(22:41:28) Lilás: referia-me à terceira pessoa.
(22:41:44) Lilás: fez.
(22:41:49) Lilás: e não fizeste.
(22:41:55) Lilás: serei.
(22:42:21) Lilás: aliás, seria, se prolongasse esse impulso
(22:42:32) Lilás: que é tão de mim quanto dissestes
(22:42:38) Lilás: de culpar.
(22:42:51) Lilás: diria que sou apenas resultado
(22:42:56) Lilás: de quem me fez
(22:42:59) Lilás: bicho.
(22:43:08) Lilás: agindo por estinto,
(22:43:19) Lilás: guiado por todo tipo de convenção
(22:43:36) Lilás: claro, contrátia a elas.
(22:43:41) Lilás: diria.
(22:43:59) Lilás: contrária*
22:45
(22:45:56) Laranja: sairei por aquela porta, já não consigo mais
(22:46:07) Laranja: toc toc
(22:46:54) Lilás: tenho sempre essa sensação sem nome.
(22:47:08) Lilás: deixe-me repartí-la com você
(22:47:11) Lilás: para que vá
(22:47:12) Laranja: voltei com suas verdades e seu tornado
(22:47:13) Laranja: quero plantar o tornado no teu quintal
(22:47:17) Lilás: e se lembre.
(22:47:20) Laranja: ok, que venha
(22:47:29) Lilás: pegue
(22:47:44) Laranja: o que é isso?
(22:47:50) Laranja: que faço com isso?
(22:48:09) Lilás: enfia no bolso.
(22:48:15) Lilás: aperta bem qndo lembrar
(22:48:30) Lilás: mas não queira sentir
(22:48:35) Lilás: nada.
(22:48:42) Lilás: e não abra mão do tudo.
(22:48:54) Lilás: feche a porta qndo sair.
22:50
(22:50:53) Lilás: feche antes q vejas como eu
(22:51:03) Lilás: aquilo que vejo daqui de cima
(22:53:48) Lilás: calma!
(22:53:49) Laranja: Voltou-se e mirou-a como se fosse pela última vez, como quem repete um gesto imemorialmente irremediável.
No íntimo, preferia não tê-lo feito; mas ao chegar à porta sentiu que nada poderia evitar a reincidência daquela cena tantas vezes contada na história do amor, que é história do mundo.
(22:54:07) Laranja: Ela o olhava com um olhar intenso onde existia uma incompreensão e um anelo, como a pedir-lhe, ao mesmo tempo, que não fosse e que não deixasse de ir, por isso que era tudo impossível entre eles. Viu-a assim por um lapso, em sua beleza morena, real mas já se distanciando na penumbra ambiente que era para ele como a luz da memória.
(22:54:20) Laranja: Quis emprestar tom natural ao olhar que lhe dava, mas em vão, pois sentia todo o seu ser evaporar-se em direção a ela. Mais tarde lembrar-se-ia não recordar nenhuma cor naquele instante de separação, apesar da lâmpada rosa que sabia estar acesa. Lembrar-se-ia haver-se dito que a ausência de cores é completa em todos os instantes de separação.
(22:54:36) Laranja: Seus olhares fulguraram por um instante um contra o outro, depois se acariciaram ternamente e, finalmente, se disseram que não havia nada a fazer. Disse-lhe adeus com doçura, virou-se e cerrou, de golpe, a porta sobre si mesmo numa tentativa de secionar aqueles das mundos que eram ele e ela.
(22:54:51) Laranja: Mas o brusco movimento de fechar prendera-lhe entre as folhas de madeira o espesso tecido da vida, e ele ficou retido, sem se poder mover do lugar, sentindo o pranto formar-se multo longe em seu íntimo e subir em busca de espaço, como um rio que nasce. Fechou os olhos, tentando adiantar-se à agonia do momento, mas o fato de sabê-la ali ao lado, e dele separada por imperativos categóricos de suas vidas, não lhe dava forças para desprender-se dela.
22:55
(22:55:07) Laranja: Sabia que era aquela a sua amada, por quem esperara desde sempre e que por muitos anos buscara em cada mulher, na mais terrível e dolorosa busca. Sabia, também, que o primeiro passo que desse colocaria em movimento sua máquina de viver e ele teria, mesmo como um autômato, de sair, andar, fazer coisas, distanciar-se dela cada vez mais, cada vez mais.
(22:55:21) Laranja: E no entanto ali estava, a poucos passos, sua forma feminina que não era nenhuma outra forma feminina, mas a dela, a mulher amada, aquela que ele abençoara com os seus beijos e agasalhara nos instantes do amor de seus corpos. Tentou imaginá-la em sua dolorosa mudez, já envolta em seu espaço próprio, perdida em suas cogitações próprias - um ser desligado dele pelo limite existente entre todas as coisas criadas.
(22:55:40) Laranja: De súbito, sentindo que ia explodir em lágrimas, correu para a rua e pôs-se a andar sem saber para onde…
(22:58:01) Lilás: -calma!
(22:58:08) Lilás: mas a porta se fechara
(22:58:24) Lilás: eu queria um último beijo.
(22:58:38) Lilás: imóvel
(22:58:46) Lilás: eu como a porta.
23:00
(23:00:23) Laranja: ela ouve por trás da porta "- Eu queria um último beijo seu."
(23:00:52) Lilás: era
(23:01:25) Lilás: 'calma! me dá um ultimo beijo..'
(23:01:44) Lilás: talvez ele n quisesse ver aqueele olhar
(23:01:48) Lilás: ah,
(23:01:51) Lilás: o olhar.
(23:03:03) Laranja: Eu conhecia muito bem o cheiro daquela mulher, encontraria-a de olhos fechados entre outras mil beldades.
(23:03:54) Laranja: O cheiro estava forte como nunca, talvez soubesse que seria a última vez que o sentiria.
(23:04:54) Laranja: Trazia o conforto do inevitável em seus braços, o peso transformou-se em doçura quando olhou para os lábios dela.
23:05
(23:05:55) Laranja: Não mais lembrava o motivo pelo qual estavam metidos no meio daquele tornado, mas sabia que tinha que ir, mesmo sem saber pra onde.
(23:07:47) Laranja: Abraçou-a, como se implorasse pra que ela insistisse, pra ganhar tempo, pra guardar bem aquele cheiro na memória, pra que algo acontecesse naquele momento congelado e desistissem do fim.
(23:08:40) Laranja: Uma orelha sua em cada palma da minha mão.
(23:09:30) Laranja: Sorrio com pena de nós.
(23:09:53) Laranja: Você não sorri, mas vejo em seus olhos que ainda acredita.
23:10
(23:11:34) Laranja: Penso que não haveria motivo pra me negar um último beijo, e ainda com uma orelha sua em cada palma de mão vou chegando perto, até tocar teus lábios, até sentir tua respiração, teu ressentimento que esquenta o corpo.
(23:12:01) Laranja: Preciso desse beijo em minha memória, penso.
(23:12:24) Lilás: mas talvez n haja tempo
(23:13:42) Lilás: silêncio.
(23:14:01) Laranja: Preciso desse beijo em minha memória, penso.
(23:14:27) Laranja: Sinto que meus lábios tocaram os lábios dela. Preciso desse beijo.
(23:14:38) Lilás: deixa o tempo pros estúpidos.
(23:14:39) Laranja: Já não quero mais ir embora.
(23:14:47) Laranja: Mas não posso dizer isso.
23:15
(23:15:23) Lilás: acaricio teus cabelos, reclina-se sobre o meu colo novamente
(23:15:33) Lilás: mas a porta está aberta.
(23:16:05) Laranja: Seguro em sua cintura, levo-te pra um lugar que não vemos mais a porta.
(23:16:37) Laranja: Não quero mais ir embora, não tenho mais motivo pra ir embora, nunca tive, não sei o que estou fazendo.
(23:16:47) Laranja: Mas eu sei que vou depois desse beijo.
(23:17:03) Laranja: Uma orelha sua em cada palma de minha mão.
(23:17:03) Lilás: deixa-me te vendar?
(23:17:13) Laranja: Sinto um cheiro bom nos teus cabelos.
(23:17:58) Laranja: Coloco os dedos entre seus cabelos, a ponta de cada dedo tocando sua cabeça suavemente.
(23:18:23) Laranja: Cheiro seus cabelos, cheiro sua orelha, suas bochechas.
(23:18:29) Lilás: eu insisto.
(23:18:33) Laranja: Preciso guardar esse cheiro na memória.
(23:18:39) Lilás: deixa
(23:19:00) Laranja: Faça o que quiser, sou todo teu.
(23:19:19) Laranja: Até sair por aquela porta.
(23:19:26) Lilás: temos num bolso a verdade
(23:19:40) Lilás: no outro, aquela sensação sem nome.
23:20
(23:20:01) Lilás: envolvo teus olhos num lenço vermelho
(23:20:21) Lilás: com cuidado, acaricio teus cabelos.
(23:20:58) Lilás: suavemente me desfaço dos teus braços em minha cintura.
(23:21:02) Lilás: ah!
(23:21:12) Lilás: sinto ardente o desejo
(23:21:56) Lilás: e o pesar de tôdo esse tornado.
(23:22:06) Lilás: afasto-me qual raposa.
(23:22:14) Lilás: só caberia um de nós ali.
(23:22:24) Lilás: silenciosamente
(23:22:38) Lilás: olho a porta entreaberta
(23:22:57) Lilás: todos aqueles sentimentos sem nome nos rodeiam
(23:23:09) Lilás: respiração ofegante,
(23:23:25) Lilás: encerro-a após mim.
(23:23:31) Lilás: a porta.
23:25
(23:27:55) Laranja: Estou vendado. Controla-me agora. Já não posso ir a lugar algum.
(23:28:43) Laranja: Honey, please don't cry, listen to me... There's no reason why we shouldn't agree...
(23:28:56) Lilás: encerrei-a a pós mim.
(23:29:02) Lilás: após*
(23:29:17) Lilás: deixei-o com aquele cheiro
(23:29:30) Lilás: mas não pude com a verdade,
(23:29:34) Lilás: qual raposa.
(23:29:44) Lilás: eu fui.
23:30
(23:32:04) Lilás: laranja
(23:32:09) Lilás: preciso dormir!
(23:32:12) Laranja: Laranja?
(23:32:17) Laranja: Ahhh sim, Laranja.
(23:32:20) Lilás: aoeihaeoi
(23:32:22) Lilás: é
(23:32:27) Laranja: opa, desculpe, não estava aqui
(23:32:29) Lilás: nao quero
(23:32:33) Lilás: mas preciso.
(23:32:44) Laranja: não quer ir dormir?{
(23:32:49) Laranja: anda com medo do escuro de novo?
(23:32:56) Lilás: nao
(23:33:13) Lilás: de fechar a porta do quarto.
(23:33:19) Laranja: ouch
(23:33:27) Lilás: podemos postar uma conversadeacasos?
(23:33:38) Laranja: juntos?
(23:33:39) Laranja: vambora
(23:33:53) Laranja: cacete ĺilás, adorei isso
(23:33:58) Lilás: odecaipo posta?
(23:33:59) Laranja: lilás
(23:34:22) Laranja: como quer?
(23:34:22) Lilás: ?
(23:34:37) Lilás: amor de balcao
(23:34:56) Laranja: daqueles que se compra no supermercado?
23:35
(23:35:19) Lilás: daqueles que se encontra no balcao de bar
(23:35:26) Lilás: e se perde ali msmo
(23:35:27) Laranja: tem amor de mercado
(23:35:34) Laranja: que se compra no supermercado do amor
(23:35:43) Laranja: empacotado e com um preço sedutor
(23:35:47) Lilás: como odecaipo quer?
(23:35:56) Laranja: não sei, sou o Laranja
(23:36:08) Laranja: não saberia recortar isso
(23:36:20) Lilás: pergunte a ele, peça-o pra postar?
(23:36:34) Laranja: lilás, veja bem
(23:36:49) Laranja: posso tentar sintetizar isso, cortar uns pedaços, incluir outros
(23:36:55) Laranja: manter a estrutura de diálogo
(23:37:00) Laranja: não sei
(23:37:07) Lilás: laranja
(23:37:10) Lilás: laranja.
(23:37:11) Laranja: mas entraram umas cinco pessoas diferentes na nossa conversa
(23:37:13) Laranja: oi oi
(23:37:17) Laranja: Laranja, Laranja...
(23:37:18) Laranja: Sim, sim...
(23:37:20) Laranja: estou aqui
(23:37:46) Lilás: deixe-o como está; estúpidos têm medo.
(23:37:51) Laranja: vou salvar a conversa toda, depois vemos o que fazemos com isso
(23:37:55) Lilás: inclua laranja e lilás
(23:37:57) Laranja: é enorme
(23:38:05) Laranja: Laranja e lilás
(23:38:12) Lilás: não se prenda a isso.
(23:38:21) Lilás: digo,
(23:38:27) Lilás: inclua isso tb.
(23:38:35) Laranja: será?
(23:38:38) Lilás: deixe pra lá o tamanho
(23:38:41) Laranja: tenho meeedo
(23:38:43) Lilás: não tire nada
(23:38:56) Lilás: não se apegue a ele,
(23:39:15) Lilás: vamos sair do lugar.
(23:39:29) Laranja: eu topo
23:40
(23:40:07) Lilás: quero saborear isso outra vez.
(23:40:10) Lilás: até breve.
(23:40:11) Laranja: eu também
(23:40:15) Laranja: até logo menos
(23:40:16) Laranja: obrigado
(23:40:36) Lilás: obrigada