In:

- Você é como um amor que cai do teto, bem em cima de mim.

(silêncio)

- Como assim do teto?

- Ah, não vou explicar.

- Então se foda.

In:

Sim, quero!

Ouça bem.

Não tem aquilo o bastante pra vida toda, ou vida suficiente para tanto aquilo, mas terá o raro privilégio, como poucos tiveram ou terão de conhecer o gosto do amor, sim terá, e será fantástico, único, não existiu felicidade maior, um recorte como nada que conhece.

Por outro lado, quando esquecer que é um privilégio e ordinarizar, pormenorizar, balancear e decidir convicta, urgente e orgulhosamente virar por um minuto de costas ele voará feito fumaça, pra outro lugar.

Aí então, apesar de muito jovem, até o fim da vida estará fadada a vagar pelos cantos, pelos ombros, pelos bares e pelos encontros, procurando algo que ao menos se pareça, nem que por um minuto, com aquilo, mas morrerá ímpar, pois o amor não haverá de voltar, estará em outro lugar, enfeitado com outros laços, se enroscando em outros abraços, realizando-se como o amor foi feito pra se realizar.

Quer mesmo assim?

In:

Pelo menos que eu conheça

Não tem problema, todos se enganam hora ou outra, pode ver.

Dizae, sinceramente, não se enganam?
Então, de fato, é normal.

Não, sério, suavemente.

Sim sim, já disse que não me preocupo.
Todos se enganam, eu, vocẽ, eles. Sem problema.

Só seguir.
Um engano, um engôdo, uma falácia, quem nunca?
É, quem?

Todos! Não há sequer um que não se engane.
Pelo menos que eu conheça.

Não há um.
Não há.

Todos se enganam.
Todos.

Todos, menos eu.